
O domínio do Comando Vermelho (CV) em Salvador se consolidou de forma silenciosa e preocupante. Bairros como Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas, Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Cosme de Farias, Saramandaia, Engomadeira, Alto das Pombas, Liberdade, Mussurunga, Iapi, Sussuarana, Tancredo Neves e Vila Laura estão sob o controle da facção carioca, que também estendeu sua influência para municípios da Região Metropolitana, como Lauro de Freitas, especialmente em Portão, Areia Branca e Capelão.
Apesar da expansão, o professor de Direito Penal e Processual Penal Luciano Bandeira Pontes, especialista em segurança pública, descarta a possibilidade de uma retaliação do grupo na capital baiana após a megaoperação realizada no Rio de Janeiro que deixou mais de 120 suspeitos mortos.
Em entrevista ao bahia.ba, ele afirmou que uma resposta violenta atrapalharia os negócios da facção. “Não acredito numa retaliação aqui. Isso atrapalharia ainda mais os negócios da facção, até porque, com a baixa que ocorreu no Rio, eles não vão querer mais operações em desfavor do Comando Vermelho”, disse.
Expansão do Comando Vermelho em Salvador
A presença do CV na Bahia teve início há cerca de cinco anos, quando o extinto Comando da Paz (CP) se associou à facção carioca. O pacto foi celebrado com fogos no céu do Complexo do Nordeste, que engloba os bairros de Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas, Santa Cruz e Chapada do Rio Vermelho, hoje, uma das áreas mais visadas pela segurança pública estadual. Com o domínio consolidado, o CV passou a reproduzir práticas típicas do crime organizado fluminense, como a extorsão de comerciantes e prestadores de serviços.
Mesmo após a operação no Rio, Luciano Bandeira considera improvável qualquer ofensiva na Bahia. Segundo ele, o Comando Vermelho está mais interessado em manter o controle territorial e econômico do que em promover ações que possam atrair o foco das forças de segurança. “Hoje o CV já dominou grande parte do território da Bahia. Um confronto agora só traria mais atenção policial e poderia comprometer os lucros”, destacou.
‘A Bahia já é um narco-Estado’, alerta especialista
Durante a conversa, o professor foi além e fez duras críticas à política de segurança pública baiana. Para ele, a ausência do Estado em áreas vulneráveis tem permitido o avanço das facções. “A Bahia já é um narco-Estado. Primeiro porque é o estado do Brasil com o maior número de facções atuando. Alguns números apontam 23 facções, outros 21. É um estado grande, com um déficit operacional de 15 mil homens da Polícia Militar e pouca presença nas fronteiras e rodovias”, afirmou ao bahia.ba.
Levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), ligada ao Ministério da Justiça, confirma a dimensão do problema. A Bahia lidera o ranking nacional de organizações criminosas, com 21 facções em atividade, o equivalente a 23% de todas as existentes no país. Entre as principais estão o Comando Vermelho e o Bonde do Maluco (BDM), que disputam espaço tanto nas ruas quanto dentro dos presídios.
Luciano Bandeira destacou ainda que a precariedade das estruturas de segurança no interior agrava o cenário. “Tem interiores da Bahia que não têm nem delegacia funcionando com delegado. Em algumas cidades, o delegado vai uma vez por semana. Aqui é um faz de conta de segurança pública”, criticou.
Para ele, reverter esse quadro exige medidas estruturais e uma nova postura do Estado. “É preciso cortar o braço financeiro das facções, retomar as empresas usadas para lavagem de dinheiro e recuperar os territórios. O Estado precisa mostrar força. Não se pode permitir que uma organização criminosa tome o controle que deveria ser do Estado”, concluiu.
Bahia.ba
 
 
 
 
 
 
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