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Samuel Júnior, Alan Sanches e Tiago Correia estão na disputa pela liderança na Casa - Foto: Divulgação | AL-BA |
A escolha do novo líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) será definida em reunião marcada para o próximo dia 30, quando o deputado Sandro Régis (União Brasil) deixa a função depois de 2 anos. A posse dos deputados ocorre dia 1º de fevereiro. Mas, independentemente de quem for eleito, será preciso enfrentar o desafio de manter a base unida o suficiente para ter condições de manter voz ativa e protagonismo na Casa.
A reportagem de A TARDE conversou com os três principais deputados apontados como favoritos ao cargo, Samuel Júnior (Republicanos), Alan Sanches (União Brasil) e Tiago Correia (PSDB), que já fazem as contas para evitar que parlamentares, até então tido como aliados, mudem de lado.
De acordo com cálculos da oposição, em tese, foram eleitos 30 deputados no campo contrário ao governo petista, 13 destes novatos. Mas, algumas baixas já são dadas como certas.
Migrações
Nos bastidores, fontes de vários partidos acham inevitável, por exemplo, a saída dos dois deputados do Solidariedade, Pancadinha e Luciano Araújo. O segundo preside a sigla na Bahia e já afirmou publicamente a intenção de compor a base do governo. Há ainda a situação dos deputados do PSC e Podemos, que estão em processo de fusão. Heber Santana (PSC), que apoiou Jerônimo Rodrigues (PT) no segundo turno das eleições, foi nomeado nesta sexta-feira, 20, para a Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado.
O deputado Samuel Júnior acredita que, apesar de difícil, o cenário ideal seria manter todos os oposicionistas e contar ainda com a colaboração do único parlamentar do PSOL na ALBA, partido do campo da esquerda, mas considerado "independente".
"Se nós conseguirmos ficar com os 30 deputados e mais o Hilton Coelho, a gente dava um show na Casa. E quando digo show, não é criar dificuldades, mas fazer um contraponto significativo. Porque seriam 31 a 31 e o voto de minerva seria do presidente", diz Júnior ao se referir ao número total de deputados que compõem a Assembleia, 63. Numa visão mais realista, ele afirma que, mesmo reduzindo a bancada para 24 nomes, seria possível "fazer oposição ao governo".
Segundo o deputado, a manutenção da base de oposição na Assembleia Legislativa já enfrenta o assédio do governo petista, que busca articular a migração e já teria procurado alguns nomes.
"Eu soube, inclusive, que o Caetano [Luiz Caetano, sec. de Relações Institucionais do governo da Bahia] tem procurado esses colegas, principalmente os colegas novos. O próprio governador Jerônimo Rodrigues fez contato com alguns e acaba que ficam sendo um pouco assediados".
De forma geral, há entendimento na oposição de que a derrota de ACM Neto (União Brasil) na disputa pelo governo do Estado atrapalhou os planos para assegurar a unificação da oposição. Parte dos deputados, especialmente os estreantes, não querem se indispor com um governo estadual alinhado à gestão federal, além de serem seduzidos pelas facilidades em obter recursos para suas bases eleitorais e outros acordos políticos.
O deputado Alan Sanches, reeleito para o quarto mandato na ALBA e também favorito a assumir a liderança da oposição, considera que não há como concorrer com as "ofertas" do governo da Bahia e que a decisão de se manter ou não na base contrária à gestão petista é de cada deputado.
"O que a gente pode oferecer é trabalho, conduta, conversa, diálogo e ajudar na medida do possível. Mas, com relação às ofertas feitas pelo governo, a gente não tem como competir com isso. A maturidade política faz com que você veja que é possível trabalhar pela população mesmo sendo deputado de oposição. Se fosse assim, só seriam eleitos deputados de governo".
O parlamentar acredita que, embora deputados possam trocar de lado com o objetivo de garantir a reeleição daqui a quatro anos, a mudança não significa necessariamente vitória nas urnas.
"Eu fui oposição há oito anos ao governo e tive agora quase 80 mil votos sendo oposição. E tiveram outros deputados do governo que não conseguiram. Não é só estar no governo, apoiar o governo do estado, que vai lhe trazer um desempenho eleitoral satisfatório. O que traz o desempenho eleitoral são as posições, as posturas, os princípios, o caráter, tudo isso vai acabar sendo avaliado pelo eleitor", diz Sanches.
Já o deputado Tiago Correia vê com naturalidade as mudanças de base, que, segundo ele, ocorrem dos dois lados.
"É natural da política essa fluidez de lado. Tanto gente da oposição indo para a base do governo, quanto da base vindo para a oposição, como os deputados do PP. Tiveram declarações de deputados que se dizem simpáticos ao governo, mas acho que esses movimentos vão ocorrer durante a legislatura", ponderou.
Apesar do risco de a oposição se enfraquecer com possíveis baixas, Correia acredita que o maior desafio político deverá ser enfrentado pelo governador Jerônimo Rodrigues. Segundo ele, a minoria na ALBA terá "discurso" para questionar a gestão petista.
"Ele assume um governo de continuidade, de 16 anos, com os piores indicadores do país em diversas áreas. Violência, nós somos os piores do Brasil. Educação, somos os penúltimos. Número de analfabetos, maior. Pessoas na linha da pobreza, o maior número. Então, ele recebe um quantitativo de indicadores muito ruins, o que facilita a oposição. A gente tem discurso", argumenta Correia.
Importância da unidade
As fontes ouvidas pela reportagem garantem que a definição do novo líder da oposição na ALBA não terá "bate-chapa" ou disputa acirrada. O objetivo é ouvir todos os parlamentares de oposição eleitos, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) , o ex-prefeito ACM Neto e decidir coletivamente o futuro do bloco.
"A gestão de qualquer membro que foi eleito é seguir a linha de oposição que a gente vem fazendo. Uma oposição mais propositiva, fiscalizando o Executivo, votando as matérias que são de interesse da Bahia e fazendo um contraponto quando entendemos que as proposições terminam não atendendo as expectativas da população", afirma Tiago Correia.
Alan Sanches destaca a importância de construir uma liderança "compartilhada", sem radicalismo e na base do diálogo.
"A população escolheu majoritariamente o governador Jerônimo. Mas uma parcela da população escolheu a oposição. Agora, a gente tem que ter muita maturidade para saber os momentos de tencionar, que são necessários, e os momentos de não tencionar".
Já o deputado Samuel Júnior, reconhece que o grupo político do PT está mais fortalecido com as vitórias de Jerônimo e Lula e a chegada do ex-governador Rui Costa à Casa Civil. Mesmo assim, espera que o novo líder consiga manter a unidade do bloco.
"Quando acontece de o governo ter uma maioria absoluta, você não tem contraponto. A gente tendo uma oposição forte, a gente consegue fazer essas negociações, consegue colocar também alguns projetos nossos, consegue forçar o governo a cumprir com as emendas impositivas, coisa que infelizmente o governador Rui Costa fez a pedacinho e não cumpriu com as emendas".
*Atarde
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