Últimas

6/recent/ticker-posts

Sem regra legal, escolas e pais buscam alternativa para mensalidades

Sem regra legal, escolas e pais buscam alternativa para mensalidades
DiscussĂŁo ĂŠ diĂĄria em grupos de pais de alunos de escolas particularesFoto: Valter Campanato | AgĂŞncia Brasil
Pagar a mensalidade escolar na Ă­ntegra mesmo com as aulas presenciais suspensas ou pedir descontos e atĂŠ a suspensĂŁo dos pagamentos enquanto as aulas nĂŁo retornarem Ă  normalidade. A discussĂŁo tem sido diĂĄria em grupos de WhatsApp de mĂŁes, pais e responsĂĄveis de crianças e adolescentes que estudam em escolas particulares. A AgĂŞncia Brasil conversou com pais e especialistas, que analisam o que pode ser feito para amenizar no “bolso” os efeitos do isolamento social adotado para combater o novo coronavĂ­rus (covid-19).

“Nos grupos hĂĄ muita discussĂŁo. Muita gente queria que continuasse tendo aula online, que a escola continuasse mandando atividades. Outros queriam que parasse de cobrar mensalidade. Outros estĂŁo querendo rescindir o contrato”, diz a servidora pĂşblica Larissa Januzzi. A filha, Maya, 3 anos, estĂĄ matriculada em uma escola particular em BrasĂ­lia, onde tinha aula das 11h Ă s 19h e fazia trĂŞs refeiçþes no dia.

As aulas na escola de Maya estĂŁo suspensas hĂĄ trĂŞs semanas. A escola optou por antecipar as fĂŠrias escolares e ainda nĂŁo estĂĄ disponibilizando atividades para as crianças. Com as reclamaçþes, acabou anunciando um desconto de 30% na mensalidade deste mĂŞs. “TĂŞm gastos que eles nĂŁo estĂŁo tendo agora, como ĂĄgua, luz, comida. E, por isso, os pais pediram para considerar um desconto. Eu acho justo nesse caso, jĂĄ que tem que manter o pagamento dos funcionĂĄrios”.

A escola de Bruna, 6 anos, tambÊm em Brasília, enviou um comunicado aos pais dizendo que irå analisar possibilidades de desconto, tendo em vista que, no Distrito Federal, as aulas estão suspensas atÊ o dia 31 de maio. A escola jå havia reembolsado o valor proporcional às aulas no contraturno de natação, por exemplo, que não foram realizadas em março.

“Na turma da Bruna tĂŞm pais que trabalham com diversas coisas, tem gente que tem loja em shopping e a loja estĂĄ fechada. Acho que ĂŠ razoĂĄvel ter uma redução, mas tambĂŠm nada exagerado, porque a escola vai fazer o quĂŞ com os professores e com todo o pessoal que eles tĂŞm? Eles vĂŁo precisar de algum recurso para manter essas pessoas, nem que seja em casa e para manter de alguma forma a estrutura e produzir o EaD [ensino a distância]”, diz o servidor pĂşblico Rafael Oliveira, pai de Bruna.

Bruna tem, diariamente, entre 2 e 5 horas de atividades a distância oferecidas pela escola, que jĂĄ possuĂ­a plataforma de EaD (ensino a distância). Trabalhando em casa, Oliveira tem que dividir com a filha o computador. “EstĂĄ difĂ­cil de conciliar. Uma parte dessas fichas e atividades exige um acompanhamento por parte dos pais”.

Escolas buscam alternativas
As escolas particulares de todo o paĂ­s estĂŁo buscando a melhor forma de seguir em contato com os estudantes, de acordo com o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Ademar Batista Pereira. “A escola estĂĄ fazendo o que pode. Se hĂĄ redução de curto e pode repassar isso para os pais, ela vai repassar. A escola vai fazer o que puder”.

Segundo ele, sĂŁo vĂĄrias as situaçþes e alternativas. HĂĄ escolas, por exemplo que estĂŁo reparcelando as mensalidades cobradas nesse perĂ­odo de suspensĂŁo das aulas presenciais. “Cada escola estĂĄ pensando em formas de nĂŁo perder os alunos”. Pereira ressalta que as escolas jĂĄ vinha atravessando um perĂ­odo difĂ­cil economicamente devido Ă  crise financeira do paĂ­s. Pereira diz ainda que as instituiçþes tĂŞm gastos com aulas a distância e que isso deve ser considerado.

No Brasil, de acordo com o Censo Escolar 2019, estão matriculados em escolas particulares 9 milhþes dos cerca de 48 milhþes de estudantes da educação båsica, que vai do ensino infantil ao ensino mÊdio.

Negociação individual
Não hå uma regra clara no país sobre como as escolas devem proceder durante a situação de pandemia. Em nota tÊcnica, divulgada na semana passada, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do MinistÊrio da Justiça recomenda que consumidores evitem o pedido de desconto de mensalidades a fim de não causar um desarranjo nas escolas que jå fizeram sua programação anual, o que poderia atÊ impactar o pagamento de salårio de professores, aluguel, entre outros.

De acordo com o diretor de relaçþes institucionais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Brito, uma solução ĂŠ que as escolas negociem caso a caso. “É inegĂĄvel a gente enxergar que existem consumidores que estĂŁo em condiçþes diferentes. Existem aqueles que estĂŁo em condiçþes de continuar pagando os contratos normalmente e existem aqueles que precisam mesmo da solidariedade das empresa, porque nĂŁo tĂŞm condição de dar continuidade ao pagamento da mensalidade porque jĂĄ foram atingidos ou pelo desemprego ou tiveram redução nos seus negĂłcios”, afirmou.

Brito diz que este momento pede, sobretudo, solidariedade. “Aqueles que podem dar continuidade ao pagamento, ainda que aceitando o serviço adaptado, precisam pensar que ĂŠ necessĂĄrio dar continuidade, exatamente para que aqueles que foram efetivamente impactados possam receber descontos e bolsas temporĂĄrias, de repente”, defende.

Segundo ele, Ê importante tambÊm que as escolas se esforcem para buscar soluçþes de adaptação das aulas, para mostrar que estão trabalhando e, assim, justificar tambÊm a manutenção da mensalidade.

Projetos de lei
Tanto na instância federal quanto nos estados hå iniciativas legislativas para estabelecer regras de cobrança de mensalidades no período em que as aulas presenciais estiverem suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19).

Na Câmara dos Deputados, três projetos de lei visam conceder desconto nas mensalidades escolares durante a suspensão das aulas presenciais em decorrência da emergência de saúde pública do coronavírus. O Projeto de Lei (PL) 1119/20 obriga as escolas privadas de ensino fundamental e mÊdio a reduzirem a suas mensalidades em, no mínimo, 30% durante a suspensão das aulas.

O PL 1108/20 permite a renegociação de mensalidades diretamente com as instituiçþes particulares de ensino båsico e superior e fixa uma faixa de de redução das mensalidades entre 20% e 30%. O texto proíbe a redução de salårios de professores e funcionårios.

Jå o PL 1183/20 obriga os colÊgios e faculdades particulares, alÊm dos cursos tÊcnicos, a concederem desconto de, no mínimo, 50% do valor pago pela modalidade presencial enquanto adotarem a modalidade a distância.

No Senado Federal, o PL 1.163/2020, obriga as instituiçþes de ensino fundamental e mÊdio da rede privada a reduzirem as suas mensalidades em, no mínimo, 30%.

As assembleias legislativas do Estado do Rio de Janeiro , do ParanĂĄ, de Minas Gerais  e de Pernambuco discutem medidas de redução de mensalidades nos estados.

Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o desconto de pelo menos 30% foi aprovado em primeiro turno e agora segue para votação em segundo turno na casa.

No Brasil, hå suspensão de aulas em todos os estados para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus. A medida não Ê exclusiva do país.

No mundo, de acordo com os últimos dados da Organização das Naçþes Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que monitora os impactos da pandemia na educação, 188 países determinaram o fechamento de escolas e universidades, afetando 1,5 bilhão de crianças e jovens, o que corresponde a 89,5% de todos os estudantes no mundo.

Mariana Tokarnia | AgĂŞncia Brasil

Postar um comentĂĄrio

0 ComentĂĄrios