
Sem regra legal, escolas e pais buscam alternativa para mensalidades
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DiscussĂŁo ĂŠ diĂĄria em grupos de pais de alunos de escolas particulares |
Pagar a mensalidade escolar na Ăntegra mesmo com as aulas presenciais suspensas ou pedir descontos e atĂŠ a suspensĂŁo dos pagamentos enquanto as aulas nĂŁo retornarem Ă normalidade. A discussĂŁo tem sido diĂĄria em grupos de WhatsApp de mĂŁes, pais e responsĂĄveis de crianças e adolescentes que estudam em escolas particulares. A AgĂŞncia Brasil conversou com pais e especialistas, que analisam o que pode ser feito para amenizar no “bolso” os efeitos do isolamento social adotado para combater o novo coronavĂrus (covid-19).
“Nos grupos hĂĄ muita discussĂŁo. Muita gente queria que continuasse tendo aula online, que a escola continuasse mandando atividades. Outros queriam que parasse de cobrar mensalidade. Outros estĂŁo querendo rescindir o contrato”, diz a servidora pĂşblica Larissa Januzzi. A filha, Maya, 3 anos, estĂĄ matriculada em uma escola particular em BrasĂlia, onde tinha aula das 11h Ă s 19h e fazia trĂŞs refeiçþes no dia.
As aulas na escola de Maya estĂŁo suspensas hĂĄ trĂŞs semanas. A escola optou por antecipar as fĂŠrias escolares e ainda nĂŁo estĂĄ disponibilizando atividades para as crianças. Com as reclamaçþes, acabou anunciando um desconto de 30% na mensalidade deste mĂŞs. “TĂŞm gastos que eles nĂŁo estĂŁo tendo agora, como ĂĄgua, luz, comida. E, por isso, os pais pediram para considerar um desconto. Eu acho justo nesse caso, jĂĄ que tem que manter o pagamento dos funcionĂĄrios”.
A escola de Bruna, 6 anos, tambĂŠm em BrasĂlia, enviou um comunicado aos pais dizendo que irĂĄ analisar possibilidades de desconto, tendo em vista que, no Distrito Federal, as aulas estĂŁo suspensas atĂŠ o dia 31 de maio. A escola jĂĄ havia reembolsado o valor proporcional Ă s aulas no contraturno de natação, por exemplo, que nĂŁo foram realizadas em março.
“Na turma da Bruna tĂŞm pais que trabalham com diversas coisas, tem gente que tem loja em shopping e a loja estĂĄ fechada. Acho que ĂŠ razoĂĄvel ter uma redução, mas tambĂŠm nada exagerado, porque a escola vai fazer o quĂŞ com os professores e com todo o pessoal que eles tĂŞm? Eles vĂŁo precisar de algum recurso para manter essas pessoas, nem que seja em casa e para manter de alguma forma a estrutura e produzir o EaD [ensino a distância]”, diz o servidor pĂşblico Rafael Oliveira, pai de Bruna.
Bruna tem, diariamente, entre 2 e 5 horas de atividades a distância oferecidas pela escola, que jĂĄ possuĂa plataforma de EaD (ensino a distância). Trabalhando em casa, Oliveira tem que dividir com a filha o computador. “EstĂĄ difĂcil de conciliar. Uma parte dessas fichas e atividades exige um acompanhamento por parte dos pais”.
Escolas buscam alternativas
As escolas particulares de todo o paĂs estĂŁo buscando a melhor forma de seguir em contato com os estudantes, de acordo com o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Ademar Batista Pereira. “A escola estĂĄ fazendo o que pode. Se hĂĄ redução de curto e pode repassar isso para os pais, ela vai repassar. A escola vai fazer o que puder”.
Segundo ele, sĂŁo vĂĄrias as situaçþes e alternativas. HĂĄ escolas, por exemplo que estĂŁo reparcelando as mensalidades cobradas nesse perĂodo de suspensĂŁo das aulas presenciais. “Cada escola estĂĄ pensando em formas de nĂŁo perder os alunos”. Pereira ressalta que as escolas jĂĄ vinha atravessando um perĂodo difĂcil economicamente devido Ă crise financeira do paĂs. Pereira diz ainda que as instituiçþes tĂŞm gastos com aulas a distância e que isso deve ser considerado.
No Brasil, de acordo com o Censo Escolar 2019, estão matriculados em escolas particulares 9 milhþes dos cerca de 48 milhþes de estudantes da educação båsica, que vai do ensino infantil ao ensino mÊdio.
Negociação individual
NĂŁo hĂĄ uma regra clara no paĂs sobre como as escolas devem proceder durante a situação de pandemia. Em nota tĂŠcnica, divulgada na semana passada, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do MinistĂŠrio da Justiça recomenda que consumidores evitem o pedido de desconto de mensalidades a fim de nĂŁo causar um desarranjo nas escolas que jĂĄ fizeram sua programação anual, o que poderia atĂŠ impactar o pagamento de salĂĄrio de professores, aluguel, entre outros.
De acordo com o diretor de relaçþes institucionais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Brito, uma solução ĂŠ que as escolas negociem caso a caso. “Ă inegĂĄvel a gente enxergar que existem consumidores que estĂŁo em condiçþes diferentes. Existem aqueles que estĂŁo em condiçþes de continuar pagando os contratos normalmente e existem aqueles que precisam mesmo da solidariedade das empresa, porque nĂŁo tĂŞm condição de dar continuidade ao pagamento da mensalidade porque jĂĄ foram atingidos ou pelo desemprego ou tiveram redução nos seus negĂłcios”, afirmou.
Brito diz que este momento pede, sobretudo, solidariedade. “Aqueles que podem dar continuidade ao pagamento, ainda que aceitando o serviço adaptado, precisam pensar que ĂŠ necessĂĄrio dar continuidade, exatamente para que aqueles que foram efetivamente impactados possam receber descontos e bolsas temporĂĄrias, de repente”, defende.
Segundo ele, Ê importante tambÊm que as escolas se esforcem para buscar soluçþes de adaptação das aulas, para mostrar que estão trabalhando e, assim, justificar tambÊm a manutenção da mensalidade.
Projetos de lei
Tanto na instância federal quanto nos estados hĂĄ iniciativas legislativas para estabelecer regras de cobrança de mensalidades no perĂodo em que as aulas presenciais estiverem suspensas por conta da pandemia do novo coronavĂrus (covid-19).
Na Câmara dos Deputados, trĂŞs projetos de lei visam conceder desconto nas mensalidades escolares durante a suspensĂŁo das aulas presenciais em decorrĂŞncia da emergĂŞncia de saĂşde pĂşblica do coronavĂrus. O Projeto de Lei (PL) 1119/20 obriga as escolas privadas de ensino fundamental e mĂŠdio a reduzirem a suas mensalidades em, no mĂnimo, 30% durante a suspensĂŁo das aulas.
O PL 1108/20 permite a renegociação de mensalidades diretamente com as instituiçþes particulares de ensino bĂĄsico e superior e fixa uma faixa de de redução das mensalidades entre 20% e 30%. O texto proĂbe a redução de salĂĄrios de professores e funcionĂĄrios.
JĂĄ o PL 1183/20 obriga os colĂŠgios e faculdades particulares, alĂŠm dos cursos tĂŠcnicos, a concederem desconto de, no mĂnimo, 50% do valor pago pela modalidade presencial enquanto adotarem a modalidade a distância.
No Senado Federal, o PL 1.163/2020, obriga as instituiçþes de ensino fundamental e mĂŠdio da rede privada a reduzirem as suas mensalidades em, no mĂnimo, 30%.
As assembleias legislativas do Estado do Rio de Janeiro , do Paranå, de Minas Gerais e de Pernambuco discutem medidas de redução de mensalidades nos estados.
Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o desconto de pelo menos 30% foi aprovado em primeiro turno e agora segue para votação em segundo turno na casa.
No Brasil, hĂĄ suspensĂŁo de aulas em todos os estados para conter o avanço da pandemia do novo coronavĂrus. A medida nĂŁo ĂŠ exclusiva do paĂs.
No mundo, de acordo com os Ăşltimos dados da Organização das Naçþes Unidas para a Educação, a CiĂŞncia e a Cultura (Unesco), que monitora os impactos da pandemia na educação, 188 paĂses determinaram o fechamento de escolas e universidades, afetando 1,5 bilhĂŁo de crianças e jovens, o que corresponde a 89,5% de todos os estudantes no mundo.
Mariana Tokarnia | AgĂŞncia Brasil
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