
PF identifica Carlos Bolsonaro como articulador em esquema criminoso de fake news
![]() |
| Reprodução/ Instagram |
PolĂcia Federal identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores do esquema criminoso de fake news, segundo investigação sigilosa conduzida pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Nos Ăşltimos meses, o presidente cobrou informaçþes sobre as investigaçþes, em reuniĂľes e por telefone, de MaurĂcio Valeixo, demitido da diretoria-geral da PF na Ăşltima sexta (24). Segundo a Folha de S.Paulo apurou, Valeixo resistiu ao assĂŠdio de Bolsonaro.
Um dos quatro delegados que atuam no inquĂŠrito ĂŠ Igor RomĂĄrio de Paula, que coordenou a Lava Jato em Curitiba quando Sergio Moro, agora ex-ministro da Justiça, era o juiz da operação. Valeixo foi superintendente da PF no ParanĂĄ no mesmo perĂodo e escalado por Moro para o comando da PF.
Dentro da PolĂcia Federal, nĂŁo hĂĄ dĂşvidas de que Bolsonaro pressionou Valeixo, homem de confiança de Moro, porque tinha ciĂŞncia de que a corporação havia chegado ao seu filho, chamado por ele de 02 e vereador do Rio de Janeiro pelo partido Republicanos.
Para o presidente, tirar Valeixo da direção da PF poderia abrir caminho para obter informaçþes da investigação do Supremo ou inclusive trocar o grupo de delegados responsåveis pelo caso. Não à toa, na sexta-feira (24), logo após Moro anunciar publicamente sua demissão do MinistÊrio da Justiça, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquÊrito no Supremo, determinou que a PF mantenha os delegados no caso.
O inquĂŠrito foi aberto em março do ano passado pelo presidente do STF, Dias Toffoli, para apurar o uso de notĂcias falsas para ameaçar e caluniar ministros do tribunal. Carlos ĂŠ investigado sob a suspeita de ser um dos lĂderes de grupo que monta notĂcias falsas e age para intimidar e ameaçar autoridades pĂşblicas na internet. A PF tambĂŠm investiga a participação de seu irmĂŁo Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de SP.
Procurado por escrito e por telefone, o chefe de gabinete de Carlos nĂŁo respondeu aos contatos da reportagem.
Para o lugar de Valeixo, no comando da PF, Bolsonaro escolheu Alexandre Ramagem, hoje diretor-geral da Abin (AgĂŞncia Brasileira de InteligĂŞncia). Ramagem ĂŠ amigo de Carlos Bolsonaro, exatamente um dos alvos do inquĂŠrito da PF que tramita no STF.
Os dois se aproximaram durante a campanha eleitoral de 2018, quando Ramagem atuou no comando da segurança do então candidato presidencial Bolsonaro após a facada que ele sofreu em Juiz de Fora (MG).
Carlos foi quem convenceu o pai a indicĂĄ-lo para o lugar de Valeixo. Os dois ficaram ainda mais prĂłximos quando Ramagem teve cargo de assessor especial no Planalto nos primeiros meses de governo. Carlos ĂŠ apontado como o mentor do chamado "gabinete do Ăłdio", instalado no Planalto para detratar adversĂĄrios polĂticos.
Segundo aliados de Moro, ao mesmo tempo que a PF avançava sobre o inquĂŠrito das fake news, Bolsonaro aumentava a pressĂŁo para trocar Valeixo. Bolsonaro enviou mensagem no inĂcio da manhĂŁ de quinta-feira (23) a Moro com um link do site Antagonista com uma notĂcia sobre o inquĂŠrito das fake news intitulada "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas".
"Mais um motivo para a troca", disse o presidente a Moro se referindo à sua intenção de tirar Valeixo. Moro respondeu a Bolsonaro argumentando que a investigação, alÊm de não ter sido pedida por Valeixo, era conduzida por Moraes, do STF.
O mesmo grupo de delegados do inquĂŠrito das fake news comanda a investigação aberta na terça-feira (22), tambĂŠm por Moraes, para apurar os protestos prĂł-golpe militar realizados no domingo passado e que contaram, em BrasĂlia, com a participação de Bolsonaro.
Assim como no caso das fake news, o ministro do STF determinou que os delegados nĂŁo podem ser substituĂdos. O gesto ĂŠ uma forma de blindar as apuraçþes dos interesses pessoais e familiares do presidente da RepĂşblica.
HĂĄ uma expectativa dentro do Supremo de que os dois inquĂŠritos, das fake news e dos protestos, se cruzem em algum momento. HĂĄ suspeita de que empresĂĄrios que financiaram esse esquema de notĂcias falsas tambĂŠm estejam envolvidos no patrocĂnio das manifestaçþes.
Coincidentemente, Bolsonaro apertou o cerco a Valeixo após a abertura dessa nova investigação. Dentro do STF, pessoas próximas a Moraes avaliam que ele deve encerrar logo a investigação das fake news para se dedicar à dos protestos.
O inquĂŠrito foi aberto a pedido do procurador-geral, Augusto Aras, e envolveria pelo menos dois deputados apoiadores de Bolsonaro. O objetivo de Aras ĂŠ apurar possĂvel violação da Lei de Segurança Nacional por "atos contra o regime da democracia brasileira por vĂĄrios cidadĂŁos, inclusive deputados federais, o que justifica a competĂŞncia do STF".
Interlocutores do procurador-geral afirmam que, inicialmente, Bolsonaro nĂŁo serĂĄ investigado. Alertam, porĂŠm, que, caso sejam encontrados indĂcios de que o chefe do Executivo ajudou a organizar as manifestaçþes, ele pode vir a ser alvo do inquĂŠrito.
Em sua decisĂŁo, Moraes cita a Constituição e salienta que o ato, como descrito pelo PGR, "revela-se gravĂssimo, pois atentatĂłrio ao Estado DemocrĂĄtico de Direito brasileiro e suas Instituiçþes republicanas".
Por: Folhapress
0 ComentĂĄrios