
Perguntas e respostas sobre o decreto de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou nesta terça (15) decreto que facilitou o acesso às armas pela população. A medida Ê uma bandeira antiga de Bolsonaro e foi reforçada durante sua campanha à Presidência.
As alteraçþes feitas se referem ao decreto que regulamenta o Estatuto do Desarmamento, lei federal aprovada em dezembro de 2003 que restringe a posse e o porte de armas no paĂs. Como ressaltou o presidente durante discurso, a medida assinada nesta terça nĂŁo muda essa lei, visto que alteraçþes no estatuto precisam obrigatoriamente passar pelo Congresso.
O texto, portanto, modifica outro decreto, de 2004, que regulamenta o registro, a posse e a comercialização de armas de fogo e munição.
Abaixo, entenda o que muda a partir do decreto de Bolsonaro, que passa a valer desde jĂĄ.
Qual a principal mudança trazida pelo decreto?
O Estatuto do Desarmamento estabelece que ĂŠ preciso comprovar a efetiva necessidade da arma para que a posse seja autorizada. Antes, cabia Ă PolĂcia Federal avaliar se o requerente do registro realmente tinha necessidade de ter uma arma. Agora, o governo federal estabeleceu que ĂŠ considerado que hĂĄ necessidade efetiva em uma lista de situaçþes. Vale destacar duas delas:
1) residentes de ĂĄreas urbanas de estados com Ăndice de homicĂdios maior de 10 por 100 mil habitantes no Atlas da ViolĂŞncia de 2018 (que traz dados de 2016). A unidade da federação com menor taxa ĂŠ SĂŁo Paulo (10,9), mas ainda assim ĂŠ superior ao limite estabelecido pelo decreto;
2) Residentes de ĂĄreas rurais.
Portanto, na prĂĄtica, o decreto considera que todas as pessoas do paĂs tĂŞm necessidade de ter uma arma.Isso significa que qualquer um pode ter uma arma?
NĂŁo. Ainda ĂŠ preciso cumprir os requisitos estabelecidos no Estatuto do Desarmamento: ser maior de 25 anos, ter ocupação lĂcita e residĂŞncia certa, nĂŁo ter sido condenado ou responder a inquĂŠrito ou processo criminal e comprovar a capacidade tĂŠcnica e psicolĂłgica para o uso do equipamento.
Hå alguma mudança em relação ao porte de armas?
NĂŁo. O decreto dispĂľe apenas sobre a posse. O porte, ou seja, a autorização para a transportar e carregar a arma consigo, fora de casa ou do local de trabalho, continua proibido. As exceçþes sĂŁo membros das Forças Armadas, polĂcias, guardas, agentes penitenciĂĄrios, empresas de segurança privada, entre outros. Para obtĂŞ-lo ĂŠ preciso demonstrar a necessidade do porte por exercĂcio de atividade profissional de risco ou de ameaça Ă sua integridade fĂsica.
O tempo de revisão da autorização da posse mudou?
Sim. Antes, era preciso renovar a posse a cada cinco anos. Agora, serĂĄ necessĂĄrio fazer isso a cada dez anos. Isso tambĂŠm vale para quem jĂĄ tinha arma regularizada antes do decreto. A renovação serĂĄ feita junto ao Comando do ExĂŠrcito, e nĂŁo mais com a PolĂcia Federal.
HĂĄ um limite de quantas armas uma pessoa pode ter?
O decreto estabelece que ĂŠ possĂvel ter atĂŠ quatro armas. Contudo, a pessoa pode requerer o registro de mais armas, desde que comprove que tem necessidade. No discurso logo apĂłs a assinatura, Bolsonaro se referiu brevemente a pessoas com diversas propriedades como uma das possĂveis circunstâncias em que seria permitido ter mais de quatro armas -“titulares ou responsĂĄveis legais de estabelecimentos comerciais ou industriais” sĂŁo considerados pelo novo decreto como pessoas que teriam necessidade de ter armas, se desejarem.
Hå alguma medida de segurança que deve ser adotada por quem quer ter uma arma?
Ă preciso apresentar declaração de que a residĂŞncia possui cofre ou local seguro com tranca, mas isso sĂł ĂŠ necessĂĄrio para quem mora com crianças, adolescentes ou pessoa com deficiĂŞncia mental. TambĂŠm vale destacar que o texto fala em “declaração”, e nĂŁo em “prova”, e nĂŁo hĂĄ nenhuma menção Ă fiscalização das residĂŞncias para verificar se isso estĂĄ sendo cumprido.
O novo decreto diz que “presume-se a veracidade dos fatos e das circunstâncias afirmadas na declaração de efetiva necessidade”, a qual serĂĄ examinada pela PF. O que isso significa, na prĂĄtica? A PF continua tendo a palavra final?
Sim, a PF tem a palavra final, mas o que mudou ĂŠ que antes a pessoa que requeria arma apresentava os argumentos que comprovavam que teria efetiva necessidade para tal. Pelo texto de agora, sĂŁo elencados os requisitos que precisam ser atendidos. O delegado ainda pode negar, mas nega com base em pontos detalhados.
Segundo o decreto, em que circunstâncias a autorização para posse pode ser negada ou revogada?
Se a pessoa mentir na declaração de efetiva necessidade, mantiver vĂnculo com organização criminosa ou se agir como uma espĂŠcie de “laranja” –a pessoa solicita o registro, mas, na verdade, a arma serĂĄ usada por quem nĂŁo se enquadra nos requisitos necessĂĄrios para a obtenção da licença.
O que acontece com quem ĂŠ pego com arma de fogo sem registro?
O decreto não altera esse item, regulado pelo Estatuto do Desarmamento. A pena para quem possui ou porta uma arma ou munição sem a devida licença Ê de dois a quatro de prisão, mais multa. Se a arma for de uso restrito (caso do fuzil, por exemplo), a pena Ê de três a seis anos, mais multa. TambÊm Ê proibido emprestar, alterar numeração ou sinal de identificação da arma.
E para quem atira?
A pena por atirar, disparar arma de fogo ou acionar munição em “lugar habitado ou adjacĂŞncias” ĂŠ crime inafiançåvel e rende de dois a quatro anos de cadeia e pagamento de multa. Isso tambĂŠm vale para quem tem o registro da posse -ou seja, nĂŁo ĂŠ porque a arma ĂŠ legal que pode ser disparada em qualquer lugar.
As exceçþes sĂŁo em casos de legĂtima defesa, estado de necessidade e em “estrito cumprimento de dever legal ou no exercĂcio regular de direito”, previstos no CĂłdigo Penal como fatores de exclusĂŁo de ilicitude.
O comĂŠrcio de armas ĂŠ permitido?
Sim. No estatuto do desarmamento, estava prevista a realização de um referendo, em 2005, para que a população respondesse Ă seguinte pergunta: “O comĂŠrcio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. Com 63,94% dos votos vĂĄlidos, o “nĂŁo” ganhou. Com isso, o comĂŠrcio permaneceu legal no paĂs. Com informaçþes da Folhapress.
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