AraKetu, Cheiro, Nana Banana, Yes Bahia Club, PapalĂŠguas. Esses sĂŁo apenas alguns dos blocos que jĂĄ foram alguns dos mais disputados do Carnaval de Salvador, mas que este ano nĂŁo vĂŁo desfilar na avenida. Os motivos sĂŁo diversos, porĂŠm a crise econĂ´mica e as taxas cobradas por ĂłrgĂŁos municipais e estaduais pesam na conta.
Ao Bocão News, representantes de diversas agremiaçþes relataram que as taxas são abusivas e que o retorno hoje não compensa. PorÊm, ninguÊm fala abertamente, em especial quando se trata de criticar a prefeitura de Salvador, atÊ porque muitos são sócios ou donos de bandas e temem ficar de fora tambÊm dos trios elÊtricos bancados pela gestão municipal especialmente para a folia.
Para se ter uma ideia, os blocos Cheiro, Nana Banana, Araketu, Yes, Papa e Nu Outro deixaram de desfilar, colocando bandas como Cheiro de Amor, Chiclete com Banana, Eva, Araketu e atraçþes de música eletrônica cada vez mais longe dos trios elÊtricos. Outras agremiaçþes só vão desfilar um ou dois dias, ou então arrendaram suas vagas para blocos sertanejos ou de forró.
O Cerveja e Cia, que antes desfilada quinta, sexta e sĂĄbado de Carnaval, inclusive com Ivete Sangalo, sĂł vai sai um dia esse ano. O Coruja, bloco principal da cantora juazeirense, sĂł desfilarĂĄ dois dias. O Fissura sairĂĄ com Tomate dois dias, assim como o Balada, que ficarĂĄ um dia sem desfilar, e nos outros dias terĂĄ Tuca e LĂŠo Santana Ă frente.
O Baby LĂŠguas, alternativo do PapalĂŠguas, sairĂĄ um dia como Blow Out, aposta de Claudia Leitte para a folia. O tradicionalĂssimo Eva tambĂŠm mudou e desfilarĂĄ apenas na sexta e sĂĄbado de Carnaval. O Inter (antigo Internacionais), que jĂĄ teve o Asa de Ăguia e a Timbalada Ă frente, em 2017 sairĂĄ dois dias com Psirico. O AlĂ´ Inter desfila dois dias como Burburinho e o Pra Ficar terĂĄ um dia na avenida como AviĂľes ElĂŠtrico.
à claro que a dinâmica do Carnaval jå não Ê a mesma, que a identidade dos blocos jå se perdeu. Diante disso, uma das estratÊgias Ê arrendar as vagas de blocos tradicionais para atraçþes de fora, em especial os representantes da música sertaneja, que têm cada vez mais público e chegam a esgotar abadås, o que poucos cantores baianos conseguem atualmente.
Em conversa com Washington Paganelli, presidente da Associação de Blocos de Trio (ABT), ele afirmou ao BocĂŁo News que hĂĄ uma conversa com a Saltur com relação Ă s taxas, mas confirmou que entre os ĂłrgĂŁos que cobram taxas para desfile de blocos no Carnaval estĂŁo: “Ecad, Sefaz Municipal, Sefaz Estadual, Sucom, Bombeiro, Fundo Especial de Aperfeiçoamento dos Serviços Policiais (Feaspol), Secretaria de SaĂşde municipal e estadual, polĂcia TĂŠcnica, Detran e Crea”.
Isso falando em blocos, porque se o assunto for Camarote, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) ĂŠ a responsĂĄvel pela taxação, que funciona da seguinte forma: taxa para construção de camarotes: R$ 62,71 por m2 de ĂĄrea construĂda; atividade sonora: varia de R$ 92,44 a 3.007,88 a depender do pĂşblico (quantidade); atividade: R$ 563,65 (sĂŁo as atividades desenvolvidas por terceiros nos camarotes, como bar, restaurante, salĂŁo, dentre outros); e publicidade: R$ 62,71 por m2.
Em recente entrevista ao apresentador JosĂŠ Eduardo, na RĂĄdio MetrĂłplole, o secretĂĄrio Claudio Tinoco, da Cultura e Turismo, foi enfĂĄtico ao afirmar que a crise tem sua parcela de contribuição para a ausĂŞncia de alguns blocos, mas citou outros fatores: “hĂĄ um problema de viabilidade que nĂŁo envolve sĂł taxa dos blocos. Tem o caso dos cordeiros, uma atividade gerida de forma legĂtima pela Justiça do Trabalho, que inviabilizou a atividade pra alguns os blocos manterem abertos”.
O secretårio se refere ao caso dos cordeiros, que recebiam um valor irrisório, que variava de R$ 10 a R$ 15 reais por dia, alÊm de não terem a devida proteção individual para o trabalho desenvolvido. A categoria passou a ter seus direitos cobrados pelo MinistÊrio Público do Trabalho, que inclui tênis, protetor auricular e luvas, por exemplo, o que acarretou em mais gastos para os donos de blocos.
Sobre reajuste das taxas, o secretĂĄrio afirmou: “estamos levantando informaçþes sobre o volume de arrecadação. NĂŁo teve um aumento significativo. Conversei com o pessoal da Sedur e nĂŁo houve aumento que nĂŁo fosse correção da inflação”. Apesar de todos os problemas, Tinoco afirmou que estĂĄ disposto a manter o diĂĄlogo aberto com o trade do Caranval, mas por enquanto quem perde ĂŠ o foliĂŁo que cada vez mais deixa de ver a prata da casa desfilar na folia de momo.
Uma das poucas empresĂĄrias que tiveram a coragem de falar ao BocĂŁo News sobre as taxas cobradas pela prefeitura, Dona Vera Lacerda, do AraKetu, relatou tambĂŠm dificuldades com falta de patrocĂnio: “a gente trabalha pra caramba pra botar bloco na rua e ainda fica com dĂvida. Hoje ĂŠ muito difĂcil conseguir patrocĂnio. Os poucos blocos que conseguem ĂŠ patrocĂnio de cervejaria, e ainda assim diminuiu bastante”.
Dona Vera afirmou ao BocĂŁo News que o apoio do poder pĂşblico faz falta, em especial por conta das taxas elevadas: “fizemos um levantamento e as taxas sĂŁo absurdas. Falta apoio do poder pĂşblico, e muito, e eu acho isso um absurdo. A taxa cobrada ĂŠ absurda e pesa no orçamento. Fizemos o levantamento pra saber nossas possibilidades e ficamos tristes com taxas, cordeiros, seguranças, trios absurdamente caros”.
Com tantos entraves e dificuldades, o Ara encontrou uma forma de desfilar na quinta de Carnaval: “com o trabalho social que temos em Periperi, pra nĂŁo ficar sem sair vamos fazer a Batucada do Ara, mistura de percussĂŁo e sopro, com os cantores no chĂŁo, lĂĄ na Barra”.
A empresĂĄria afirmou que estĂĄ aguardando uma resposta do poder pĂşblico, mas que estĂĄ desiludida: “tĂĄ bem difĂcil, ĂŠ uma pena”. Em uma breve anĂĄlise, Dona Vera Lacerda fez uma projeção na empolgante para a folia baiana: “hĂĄ muito tempo venho falando nisso. Do jeito que vai, o Carnaval da Bahia vai desaparecer. Todos os estados investem em carnaval de rua, e a Bahia vai ficar fora disso? NĂŁo sei mais pra onde vai caminhar. Eu estou muito triste porque sou uma das pessoas que mais ama o Carnaval da Bahia e luta por ele”.
(BocĂŁo)
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