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Plano do governo quer melhorar ensino de presos em toda Bahia

Hå dois anos e meio, o detento Rômero Eduardo Almeida dos Santos, 40 anos, começou a ter uma nova perspectiva de vida. Ele, que havia estudado atÊ a 8ª sÊrie, retomou os estudos dentro da Penitenciåria Lemos Brito (PLB), onde estå preso hå quatro anos.
 
“Eu vejo que o estudo sempre foi e sempre serĂĄ uma forma de sucesso do ser humano. É uma oportunidade de futuro”, diz. Ele ĂŠ um dos 319 presos (de um total de 1.351 em toda a Lemos Brito) que voltaram a estudar, dentro do projeto de ressocialização do complexo penitenciĂĄrio. O nĂşmero representa 23% dos presos.
 
Agora, o governo do estado vai aprimorar esse programa, com um novo Plano Estadual de Educação no Sistema Prisional, que estå sendo elaborado.
 
“Reunimos todos os profissionais envolvendo a ĂĄrea  de educação e fizemos esse plano, a partir de uma adaptação do que jĂĄ existe”, explicou o   superintendente de ressocialização da Secretaria de Administração PenitenciĂĄria (Seap), LuĂ­s AntĂ´nio Fonseca.
 
A proposta Ê aperfeiçoar os formatos de aula dentro das unidades prisionais. O conteúdo programåtico aplicado nas unidades Ê do projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e os estudantes são classificados de acordo com o nível de formação que jå possuem.
 
ApĂłs a conclusĂŁo, o plano estadual serĂĄ encaminhado aos MinistĂŠrios da Educação (MEC) e da Justiça, para que sejam aprovados e posteriormente sejam aplicados no sistema prisional. 
Entre as propostas estão a ampliação em 36% da oferta de Educação Båsica, em nível fundamental e mÊdio, pelo EJA, e a melhoria dos espaços físicos para o funcionamento das turmas.
 
“Acreditamos que, facilitando as atividades dentro da unidade, conseguiremos diminuir a tensĂŁo do ambiente, alĂŠm de estimular os internos a trilhar um caminho interessante quando saĂ­rem daqui”, diz o diretor da PLB, Everaldo Jesus de Carvalho.
 
Os certificados de formação são emitidos pelo ColÊgio Estadual George Fragoso Modesto, antiga Escola Especial da Penitenciåria Lemos Brito, que funciona dentro da unidade prisional. No ano passado, a Bahia foi reconhecida no Prêmio Nacional de Educação do Sistema Prisional (do MEC), como o segundo melhor sistema de escolas prisionais do país.
 
Novas perspectivas
Segundo a Seap, dos 12,8 mil presos que compĂľem a população carcerĂĄria do estado, apenas 691 (5%) tĂŞm  nĂ­vel fundamental completo.
 
É o caso de RĂ´mero, que jĂĄ cumpriu quatro anos, da pena de sete, e pretende continuar os prĂłximos anos investindo na educação para ter um futuro melhor. Ele jĂĄ faz planos para o futuro. “Quero voltar a trabalhar com panificação, jĂĄ tenho experiĂŞncia, estou tentando uma vaga no curso daqui tambĂŠm”, disse, referindo-se Ă  educação profissionalizante realizada por sete empresas que atuam dentro do complexo em ĂĄreas como construção civil, panificação e estofaria.
 
Na Lemos Brito, hĂĄ  12 salas de aula, instaladas prĂłximas a celas. SĂŁo quatro horas diĂĄrias. A carga horĂĄria ĂŠ definida para que possibilite ao detento participar de outras atividades, mas, para o detento Davi Oliveira, 36 anos, o tempo poderia ser maior. “Eu queria mais tempo para conseguir adiantar os estudos”, diz.
 
Davi quer entrar na faculdade de Administração e, apesar de jå ter o ensino mÊdio completo, quis voltar a estudar para se sentir mais preparado para o Exame Nacional do Ensino MÊdio (Enem). O exame deve ser aplicado nas prisþes em novembro, um mês após a aplicação da prova em todo o país. Ele foi condenado a 10 anos em regime fechado, por roubo, mas quer uma nova vida quando sair da unidade.
 
Aulas noturnas
Ao todo, dentro da PLB, metade dos detentos faz parte da reinserção social, que inclui a parte educacional e o trabalho. A maior parte deles escolhe o trabalho, mas existe um projeto de mobilização para que cada vez mais presidiĂĄrios possam estudar, explica a coordenadora de atividades laborativas e educacionais da penitenciĂĄria, Tânia LĂşcia dos Santos. “JĂĄ conseguimos estabelecer uma boa relação entre professores e presos. IncentivĂĄ-los a estudar ĂŠ um trabalho conjunto, porque somos todos agentes ressocializadores”, explica.
 
E se o objetivo ĂŠ promover a ressocialização, a penitenciĂĄria criou mais um mecanismo para conseguir que os detentos possam estudar e tambĂŠm trabalhar: as aulas noturnas. 
Aqueles que conseguem avançar saem da farda laranja e passam a usar a azul. Esses têm mais liberdade e podem circular na parte aberta da penitenciåria, alÊm de ter acesso às aulas que acontecem à noite, no módulo IV. Ao todo, são 75 presidiårios matriculados.
 
“Esses presos sĂŁo avaliados constantemente e, a partir de sua conduta, ganham flexibilidade dentro do complexo. Essa avaliação passa pelo conselho disciplinar, assistente social, todos participam da decisĂŁo”, explica Everaldo de Jesus.

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