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Quase 70 travestis e transexuais pediram para usar nome social no Enem

Deborah Ê transexual e fez inscrição no Enem. Ela pretende usar o exame para ingressar no ensino superior (arquivo pessoal)
Pela primeira vez, travestis e transexuais podem usar o nome social no Exame Nacional do Ensino MĂŠdio (Enem). A medida foi celebrada por ativistas e atraiu mais candidatos ao exame. Dados obtidos com exclusividade pela AgĂŞncia Brasil mostram que atĂŠ o penĂşltimo dia de inscrição, 68 pessoas solicitaram o uso do nome social pelo telefone 0800-616161.
Essas solicitaçþes jå entraram no protocolo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e serão atendidas. O número ainda pode aumentar. Segundo o Inep, mais 27 pessoas ligaram para pedir informaçþes sobre a questão. O prazo para solicitar o uso do nome social terminou no dia 23, assim como o período de inscrição.
A pedagoga e presidenta do Conselho Municipal LGBT (LĂŠsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) de SĂŁo Paulo, Janaina Lima, diz que o uso do nome social atraiu mais candidatos ao exame. “No meu convĂ­vio social, eu sei de vĂĄrias [travestis e trans] que estĂŁo se inscrevendo. Saber que vai chegar lĂĄ e vai ser sĂł mais uma pessoa concorrendo, tem facilitado. Elas dizem que estĂŁo se inscrevendo sĂł porque poderĂŁo usar o nome delas e que nĂŁo vĂŁo ser expostas antes mesmo de começar a prova”.
Travesti, JanaĂ­na tambĂŠm se inscreveu no Enem. Apesar de ser formada, ela quer testar os conhecimentos e verificar de perto o respeito ao nome social.
Os candidatos devem fazer a inscrição normalmente no site do Enem. O nome a ser usado ĂŠ o que consta no documento de identidade, mas quem quiser, em seguida, pode usar o telefone para pedir que seja identificado pelo nome social no dia do exame - 8 e 9 de novembro. A inscrição sĂł serĂĄ confirmada apĂłs o pagamento da taxa de R$ 35, o que deve ser feito atĂŠ 28 de maio.  Estudantes da rede pĂşblica e pessoas com renda familiar atĂŠ 1,5 salĂĄrio mĂ­nimo sĂŁo isentos.
“O nome social garante que a pessoa seja respeitada no gĂŞnero em que estĂĄ, para que nĂŁo sofra nenhum constrangimento”, explica a coordenadora de PolĂ­ticas da RegiĂŁo Sudeste da Associação Brasileira de LĂŠsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e coordenadora colegiada do FĂłrum LGBT do EspĂ­rito Santo, Deborah SabarĂĄ.
Deborah ĂŠ trans e fez inscrição no Enem. Ela pretende usar o exame para ingressar no ensino superior. Ainda estĂĄ em dĂşvida entre os cursos de histĂłria e serviço social.  “O percentual de pessoas trans no ensino superior ĂŠ baixĂ­ssimo. Estamos tambĂŠm longe das escolas, do ensino fundamental e mĂŠdio. Mas eu acredito que isso vai aumentar. Precisamos empolgar a nossa população a fazer o Enem e usĂĄ-lo para o que for possĂ­vel”.
Deborah diz que não hå um levantamento oficial sobre o acesso de travestis e transexuais ao ensino superior. No entanto, em Vitória, são apenas duas pessoas, uma em instituição pública e outra em particular, em um universo estimado de 390 trans em Vitória. Para alÊm da própria formação, ela espera servir de exemplo para o filho, Caio Felipe, de 13 anos.
Atualmente, travestis e transexuais podem solicitar Ă  Justiça a mudança de nome na carteira de identidade, mas o processo feito em particular ĂŠ caro e pode levar de um mĂŞs a mais de um ano. O advogado e coordenador do Grupo de Estudos em Direito e Sexualidade da Universidade de SĂŁo Paulo (USP), Thales Coimbra, diz que nĂŁo hĂĄ lei especĂ­fica para a questĂŁo e a pessoa pode ser submetida a uma sĂŠrie de constrangimentos. Para ele, a medida adotada pelo Enem ĂŠ positiva. “É uma medida de muita sensibilidade. O Enem nĂŁo coloca nenhum critĂŠrio que dificulte a pessoa a gozar desse direito. O nome parece algo simples, mas tem muito valor, ĂŠ o passaporte para o acesso a direitos bĂĄsicos”, diz.
O presidente do Inep, Chico Soares, explica que o nome social constarå tambÊm no cartão de confirmação de inscrição que os candidatos recebem pelo correio com informaçþes para o exame, como o local de prova. As medidas foram tomadas depois que duas transexuais tiveram problemas, no ano passado, com a identificação no dia da prova.
“Por uma questĂŁo de segurança, a identificação dos candidatos tem que ser feita pelo CPF. Mas foi com muita discussĂŁo com os movimentos, que chegou-se Ă  solução do atendimento pelo telefone. A pessoa faz a inscrição, se identifica civilmente e liga para o 0800, onde tem um atendimento personalizado”, acrescenta Soares.