Psicólogos relatam ‘muitos casos’
O colégio ainda promoverá, na segunda-feira, uma palestra para os alunos sobre os benefícios e os riscos do conteúdo disponível na internet. A ideia de tentar o “jogo” surgiu depois que alguns deles assistiram a demonstrações em sites de compartilhamento de vídeos. — Nem sempre os adolescentes sabem avaliar o perigo do que veem. Por isso é importante que os pais monitorem a navegação deles pela web, por mais que não gostem, e também conversem sobre os riscos — alertou Moraes. Cardiologista do hospital Pró-Cardíaco, no Rio, Claudio Tinoco explica que as consequências da “brincadeira” podem ser graves, principalmente se o aluno tiver um problema cardíaco desconhecido. — A brincadeira causa queda de pressão, falta de oxigenação no sangue e a síncope, conhecida como desmaio. A falta de oxigenação pode levar a uma parada cardíaca ou a uma lesão no cérebro, com sequelas permanentes. A área da memória é a primeira a ser danificada, mas o adolescente pode ainda ter parte da visão afetada. Em casos mais sérios, pode haver coma e morte cerebral — explica Tinoco. — É uma prática muito arriscada que eu não recomendo de forma alguma. Muitos jovens têm relatado experiências com a brincadeira mortal em seu consultório, afirma o psiquiatra Fábio Barbirato, especialista em transtornos na infância e adolescência da Santa Casa da Misericórdia do Rio. — Um menino precisou ir para o hospital recentemente porque perdeu a consciência. Os colegas não conseguiram acordá-lo — relata Barbirato, que atribui a brincadeira a duas razões. — É uma espécie de demonstração de força típica dessa fase de formação de grupo, quando os jovens fazem de tudo para serem aceitos pelos outros, expondo-se a consequências graves. Por outro lado, há relatos de que a asfixia dá uma sensação de euforia e prazer, mas não existe nenhuma comprovação médica disso. A psicóloga Fernanda Reis, especialista no tratamento de crianças e adolescentes, é outra a ter ouvido relatos da prática no seu consultório. — Os adolescentes buscam se destacar por meio desses desafios. Mas há riscos com os quais eles não têm capacidade para lidar. O que você vai fazer se o seu amigo tiver uma parada cardíaca ou entrar em coma? — questiona.
Mortes nos EUA e na França
Fora do Brasil, o “jogo do desmaio” já deu origem a manchetes trágicas. Na França, as terríveis consequências da prática levaram à criação de uma associação de pais de vítimas desse jogo de estrangulamento, a Apeas. Segundo a organização, dez mortes são registradas anualmente, em média, no país europeu desde 2000 devido à perigosa prática. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), pelo menos 82 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 16 anos morreram no país por causa da brincadeira, entre 1995 e 2007. Como as mortes geralmente são registradas como suicídio, pois acontecem mais comumente quando os adolescentes se arriscam sozinhos, é difícil computar números. Mas um caso famoso deu mais visibilidade ao problema. Em 2006, o campeão mundial de surfe Shaun Tomson perdeu o filho, Matthew, enquanto o menino de 15 anos brincava do “jogo do desmaio”. O surfista sul-africano escreveu um livro, “The code” (O código), direcionado a adolescentes, em que pede aos jovens para pensarem duas vezes antes de correr esse risco. A esperança é que relatos com o seu consigam influenciar mais os jovens do que os muitos vídeos com cenas de simulação de estrangulamento espalhadas pela internet. (Oglobo)
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